Perspectivas del Turismo Cultural II
La gestión del turismo y sus problemáticas desde visiones sociales

Museu e desenvolvimento econômico:
o caso do Parque do Varvito
(Itu, SP-Brasil)

Jonas Soares de Souza (*)
Museu Paulista - USP
Brasil - Porto Feliz - SP

O projeto museológico do Parque do Varvito (**) foi desenvolvido pelo poder público municipal em 1993,  no local de uma antiga pedreira, na cidade de Itu, Estado de São Paulo, Brasil. A pedreira era explorada comercialmente como fonte de material construtivo, a  “pedra de varvito” ou “laje de Itu”.

Itu situa-se no limite entre o Planalto Atlântico, região montanhosa onde está a cidade de São Paulo, e a chamada Depressão Periférica, ampla área erodida e aplainada, com cerca de 200 quilômetros de largura que se inclina suavemente para oeste, em direção à serra de Botucatu. O Planalto Atlântico é formado principalmente de rochas ígneas (por exemplo, granitos) e rochas metamórficas (por exemplo, gnaisses). A Depressão Periférica foi escavada pela acão dos rios que correm em direção ao rio Paraná, sobre rochas sedimentares da Era Paleozóica (Períodos Carbonífero e Perminano), e de rochas sedimentares e ígneas intrusivas (soleiras e diques) intercaladas, da Era Mesozóica (Períodos Triássico e Cretáceo).

Varvito é o nome utilizado pelos geólogos para denominar um tipo especial de rocha sedimentar formada pela sucessão repetida de lâminas ou camadas, cada uma delas depositada durante o intervalo de um ano. Cada lâmina ou camada do varvito é, na verdade, um par formado de uma porção inferior, mais espessa (de centímetros a decímetros),  de arenito ou siltito, de cor mais clara, seguida de uma porção mais fina (milímetros) de siltito ou argilito, de cor mais escura (cinza escuro).O termo deriva da palavra varve ,  de origem sueca, geralmente usada para denominar depósitos sedimentares chamados sazonais, isto é, controlados pela variação das estações do ano. O tipo mais conhecido de varve é representado pelas lâminas, ou camadas de sedimentos depositados em lagos formados na frente das geleiras, através do represamento da água produzida pelo derretimento do gelo, durante as fases de recuo das geleiras.

A orígem da extração de  varvito na  pedreira  de Itu é contemporânea do início do povoamente da região,  no século XVII. Com o passar dos anos ela se constituiu em uma  significativa atividade econômica. A rocha era então conhecida como laje de Itu , e usada no revestimento dos pisos das residências, conventos, igrejas e também das calçadas do povoado. No centro histórico de Itu pode-se encontrar vários exemplos da antiga utilização da laje como pedra de construção. O registro histórico mais antigo que se tem sobre a exploração da pedreira de Itu, para a obtenção de suas famosas "lajes", data de aproximadamente 1720. É muito provável, entretanto, que o uso do varvito como pedra de construção seja contemporâneo da fundação da cidade de Itu, em 1610. Vários exploradores e visitantes, brasileiros e estrangeiros fizeram referencias  às famosas "lajes" e ao seu uso nos edifícios e calçadas da cidade: José Bonifácio de Andrada e Silva; Gustave Beyer, 1813; Saint-Hilaire, 1819; Hercule Florence, 1825;  Zaluar, 1860.

O Parque do Varvito foi criado tendo em vista a grande importância dessa pedreira como documentário da História Geológica do Brasil. O reconhecimento da "laje de Itu” como varvito, em 1938, deve-se a Othon H.Leonardos, geólogo do então Serviço de Fomento da Produção Mineral do Brasil. Embora outras ocorrências de rochas identificadas como varvitos fossem já conhecidas no Sul do Brasil, Leonardos considerou a pedreira de Itu como "a mais linda exposição de varvitos encontrada no país". O local tornou-se desde então famoso e vem sendo frequentemente visitado por numerosos cientistas, professores universitários, estudantes de Geologia do Brasil e do Exterior, interessados em examinar essa excepcional e rara exposição de rochas tão peculiares. Descrições e fotografias do varvito de Itu apareceram em publicações científicas e livros textos de diversos países.

A pedreira de varvito de Itu é,  sem sombra de dúvida, uma ocorrência clássica na geologia nacional e internacional. Trata-se da mais importante exposição conhecida desse tipo de rocha em toda a América do Sul. A interpretação dos varvitos como equivalentes aos sedimentos sazonais de antigos lagos glaciais tem, evidentemente, um grande interesse geológico como indicadores dos climas do passado na Terra (paleoclimas). Constituem eles, juntamente com outras rochas, como os tilitos (conglomerados  glaciais) e as rochas moutonnées etc. importantíssimas evidências da ocorrência de clima frio ou glacial.  Depósitos do varvito foram identificados e descritos em associação com outras rochas e estruturas formadas pela ação de geleiras, durante as várias idades glaciais que afetaram a Terra nas Eras Pré-Cambriana e Paleozóica.

O projeto museológico:

O projeto museológico do parque, coordenado pelo técnico em turismo José Geraldo Garcia, procurou atender ao propósito de permitir ao mesmo tempo: a interação do binômio  lazer e cultura ;  a proteção do patrimônio ambiental urbano;  a conservação e valorização do sítio geológico  tombado pelo   CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico,    Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo; o desenvolvimento de atividades didáticas e de divulgação científica nos campos da Ecologia e da Geologia ; e o fomento do turismo cultural.

Na execução do projeto procurou-se dar intelegibilidade a temas complexos, como orígem do varvito, glaciações e  Gondvana, o supercontinente perdido. O parque é um grande museu ao ar livre, e o seu maior atrativo é o próprio varvito . Além dos paredões de varvito , o parque está equipado com anfiteatro ao ar livre, bosques, lago, cascata, quiosques, parque infantil e área de alimentação. Os principais pontos de interesse histórico, geológico e turístico do parque foram assinalados em uma planta,  mostrada num grande painel. O visitante  pode  seguir o roteiro sugerido, indicado pela sequência dos números das paradas, para melhor aproveitamento da visita. Em dois galpões, construídos com estrutura metálica no centro do parque, apresenta-se uma exposição que trata didaticamente do tempo geológico; de Gondvana: o supercontinente perdido; dos períodos de glaciação; da formação do varvito e da geomorfolologia e geologia da região de Itu, São Paulo. O projeto do parque e a montagem da exposição contou com a assessoria científica de um geomorfólogo de grande reputação, Antônio Rocha Campos, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, autor dos desenhos esquemáticos e da maior parte dos textos científicos e didáticos..

" Lajes de Itu” ou pedras do varvito de Itu continuam a ser retiradas da pedreira existente ao lado do parque. Elas são utilizadas na pavimentação de calçadas, interiores de residências, jardins e na fabricação de utensílios diversos, como bancos, mesas  etc.

Atualmente, a retirada das " lajes" e seu beneficiamento são feitos com o auxílio de máquinas diversas. Somente " lajes" de espessura variando de cinco a dez centímetros são aproveitadas. Assim, as camadas mais espessas, da parte de baixo dos paredões, e as mais finas, da sua parte superior, são deixadas de lado e constituem a maior parte do rejeito da pedreira.

Os visitantes têm acesso à pedreira explorada comercialmente, e podem acompanhar a extração da “laje de varvito” ou adquirir obras de artesanato produzidas em varvito, cuja procura tem sido ampliada  em decorrência do movimento do próprio parque.

A implantação do projeto favoreceu o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida nas áreas urbanas adjacentes e a consolidação do turismo cultural no município. O parque ocupa uma área de  44.346 m2, em torno de paredões de varvito, e integra o plano de fomento ao turismo cultural na região do Vale Médio do Tietê.

A história de Gondvana  e das glaciações nos painéis e nas rochas do parque: (***)

A similaridade e o encaixe quase perfeito das margens continentais da África e América do Sul desde há muito atraíram a atenção dos cientistas. Com base nesse fato, e na descoberta de rochas e fósseis semelhantes na Índia, sul da África e América do Sul, o cientista alemão Alfred Wegener propos, em 1912, a hipótese de que essas regiões, juntamente com a Austrália, formavam, no passado, durante a Era Paleozóica, uma enorme massa continental, posteriormente desmembrada em diversos fragmentos (América do Sul, África,  etc.), que se deslocaram sobre a Terra, até atingirem suas posições atuais. Essa hipótese  denominou-se Deriva (ou deslizamento) Continental.  O antigo supercontinente foi chamado de Gondwana (=  Reino dos Gonds, uma tribo do centro da Índia), em português, Gondvana, porque as rochas e fósseis característicos foram encontrados pela primeira vez na Índia. Pesquisas geofísicas realizadas nos fundos oceânicos e a determinação das antigas posições geográficas dos continentes, através do método paleomagnético, vieram posteriormente apoiar as idéias de Wegener.

Esse conjunto de dados forma hoje a Teoria da Tectônica das Placas Continentais. Segundo essa teoria, a crosta da Terra é subdividida  em sete grandes placas (outras menores existem), que se movimentam passivamente, umas em relação as outras, sobre superfície semi-líquida no interior da Terra. O encontro das placas ocorre nas margens dos continentes (por exemplo, a margem ocidental da América do Sul) e nas cadeias de Montanhas submarinas (por exemplo, a cadeia meso-atlântica). O movimento relativo das  placas provoca os terremotos e vulcanismo. As mudanças na posição geográfica das massas continentais, através da movimentação das placas, etão relacionadas com mudanças na distribuição dos mares e da terra, nas condições climáticas dos continentes etc.

O supercontinente do Gondvana , que era formado pela América do Sul, península Arábica, África, Índia, Austrália, Nova Zelândia e Antártida, existiu durante quase toda a Era Paleozóica e começou a fragmentar-se no Período Jurássico, com a separação e migração dos continentes que o formavam. As mudanças de posição geográfica do Gondvana , passando pelo polo e depois gradualmente deslocando-se para o Equador, durante o tempo geológico, podem ter sido uma das causas principais das mudanças climáticas que aí ocorreram.

Ao longo da história geológica da Terra, muitas evidências, encontradas nas rochas, indicam que intervalos relativamente longos, de clima "quente", têm-se alternado com fases relativamente curtas, de clima "frio". Nos intervalos mais frios, a quantidade de neve que cai no inverno pode ser superior a que derrete na na primavera e verão, resultando no seu acúmulo. Sob compactação, a neve transforma-se em gelo, mais denso, que alcançando um certo volume, começa a fluir sob o efeito da gravidade, para regiões mais baixas, sob a forma de grandes massas de gelo chamadas geleiras .  Apesar de sólidas, as geleiras podem deformar-se lentamente, através de modoficações que ocorrem nos cristais de gelo.

Dois tipos principais de glaciação são conhecidos. As de altitude, alipinas ou de montanha ocorrem em altas cadeias de montanhas, como a cordilheria dos Andes e os Alpes, em que o abaixamento da temperatura está ligado às grandes alturas alcançadas. Nas glaciações de latitude ou continentais, enormes massas de gelo formam-se, cobrindo quase que completamente uma região, de topografia relativamente modesta, geralmente junto aos polos da Terra, como é o caso da Groelândia e Antárdida.

Durante períodos especiais chamados de idades glaciais, que ocorrem de tempos em tempos, mantos de gelo, com um milhão de quilômetros quadrados e espessuras de milhares de metros, avançam sobre regiões mais afastadas dos polos, em direção ao Equador. A última idade glacial, ocorrida no Cenozóico, mantos de gelo alcançaram o norte dos Estados Unidos, na América do Norte, e o norte da Alemanha e a Grã-Bretanha, na Europa. As fases de avanço do gelo (glaciações) alternam-se com fases relativamente rápidas (geologicamente falando), quando os mantos do gelo se desintegram e desaparecem pelo degelo (interglaciais), embora um clima frio ainda permaneça.

A origem  das idades glaciais ainda é uma questão não inteiramente resolvida. Vários fatores têm sido  considerados. A causa fundamental é, evidentemente,  uma mudança climática na Terra, em particular na temperatura do Planeta. As causas dessas mudanças são diversas. Entre os fatores terrestres, a formação de montanhas e a movimentação dos continentes podem criar condições adequadas ao início das idades glaciais. Vulcanismo, mudanças na circulação dos oceanos e na composição da atmosfera são outros fatores lembrados. Variações periódicas no comportamento orbital da Terra e, em consequência, na radiação recebida do Sol,  são exemplos de possíveis causas extra-terrestres.

Apesar de ser hoje um país tropical, existem evidências geológicas da ocorrência de pelo menos cinco idades glaciais no Brasil. Uma delas, ocorrida no final da Era Paleozóica (Períodos Carbonífero e Permino), mais ou menos entre 296 e 268 milhões de anos atrás, é de grande importância para nós, porque atingiu a região sudeste do Brasil. O manto de gelo formado sobre o Supercontinente do Gondvana deslocou-se da África, de sudeste para noroeste, chegando até o Brasil e à região de Itu.

Durante o seu movimento, sob o efeito da gravidade, as geleeiras modificam a superfície do solo no qual deslizam, através da erosão. A erosão glacial dá-se pela combinação de dois processos: a abrasão e o arrancamento. A abrasão é uma espécie de lixamento das rochas do asoalho sobre o qual o gelo passa, produzido pelo atrito de fragmentos de rochas e minerais, de vários tamanhos (desde grande blocos até grãos de areia), transportados pelas geleras, junto à sua base. O arrancamento corresponde ao levantamento, incorporação e remoção de fragmentos de rochas e minerais. Vários fatores influenciam a erosão glacial, dentre os quais a natureza e estrutura do terreno sobre a qual as geleiras se movem. Os efeitos da abrasão podem ser constatados  principalmente pela presença de estrias e/ou sulcos sobre a  superfíce das rochas sobre as quais as gelerais deslizaram e que se tornam expostas, após o recuo ou desaparecimento do gelo, pelo seu derretimento. Estrias são riscos finos, geralmente retos e paralelos, e de comprimento variável. Sulcos são escavações mais profundas que as estrias, em forma de "U", e de comprimento maior. As estrias e sulcos são evidentemente parapelos ao movimento das gelerais. As superfícies erodidas pelo gelo podem também mostrar as chamadas fraturas ou marcas de fricção, geralmente com a forma de meia-lua, formando grupos. Suas convexidades ou concavidades voltam-se para o sentido do movimento da  geleira. Além das feições menores acima, as geleiras podem produzir outros tipos de formas erosivas como, por exemplo, as rochas moutonnées. A ocorrência dessas rochas na região  é explorada pelo Parque Rocha Moutonnée, no município vizinho de Salto, projetado pelo arquiteto e museólogo Júlio Abe Wakahara.

Os fragmentos de rochas e minerais transportados pelas geleiras situam-se em cima, dentro ou na base do gelo. As geleiras podem ser comparadas grosseiramente a pás escavadeiras gigantes, que avançam, raspando a superfície do solo e empurrando uma pilha caótica de detritos à sua frente. A capacidade de transporte das geleiras é enorme e blocos gigantescos de rochas podem ser deslocados a enormes distâncias.

A liberação e deposição dos materiais transportados dá-se pelo derretimento do gelo em cima, em volta ou mesmo embaixo de uma geleira em movimento ou parada, e pelo esfregamento das particulas incluídas no gelo  sobre o solo, durante o deslocamento. Esses materiais variam nas suas características, de acordo com a maneira pela qual são depositados, a partir do gelo.

Os materiais depositados embaixo das geleiras em movimento, formam um tapete irregular e descontínuo de sedimentos muito compactados e heterogêneos, principalmente sobre irregularidades do terreno. O empilhamento desses materiais heterogêneos pode formar cordões na frente das geleiras. A maior parte desses materiais é liberada, entretanto, durante a fase de degelo. Esses depósitos recebem o nome de tills, ou tilitos,  quando já consolidados, formando uma rocha. Fragmentos de rochas incluídos nos tills e tilitos podem ter formas características (por exemplo facetas) e estrias nas suas superfícies. As águas de degelo ou derretimento, mais abundante na fase de recuo das geleiras, por sua vez, formam enxurradas e até rios, que correm a partir das geleiras. Podem também ser represados e formar largos, principalmente na frente das massas de gelo. Materiais transportados e depositados pelas águas de degelo incluem areias, cascalhos e argilas. São chamados de flúvio-glaciais (depositados pelos rios) e glacio-lacustrinos ou lacustres (depositados em lagos).

Como se formou o varvito?

Durante a primavera-verão, quando a temperatura é mais quente, a água gerada pelo derretimento do gelo é mais abundante, transportando maior quantidade de areias e siltes para dentro do lago, onde eles espalham-se através de enxurradas densas, resultando nas camadas ou lâminas mais espessas e claras. Nessa época, pedaços de gelo podem se soltar da geleira e formar icebergs (gelo flutuante) que, por derretimento, desaparecem, liberando no fundo do lago possíveis detritos que carreguem, inclusive seixos, calhaus e matacões.

No outono-inverno, ao contrário, as temperaturas são mais frias, as águas de derretimento cessam de correr e a superfície do lago congela. Desse modo, as partículas ou grãos mais finos de silte e argila, que permaneciam suspensos na água, podem assentar-se no fundo do lago formando as lâminas escuras e finas de cada varve.

Vários cientistas estudaram cuidadosamente o varvito de Itu à procura de evidências de que a deposição de cada camada ou lâmina ocorreu realmente durante o período de um ano. Características sedimentológicas, paleontológicas, paleomagnéticas e de variação da espessura das camadas ou lâminas do varvito encontradas são realmente muito semelhantes as das varves típicas do Período Pleistocênico.

Uma dessas características consiste na presença de blocos, geralmente de granito, de diferentes tamanhos, intercalados nas camadas do varvito . Por causa do seu grande tamanho, é improvável que eles tenham sido transportados pela água corrente que entrou no lago trazendo os sedimentos finos (areias, siltes etc.).  As deformações das camadas de varvito  acima e, principalmente, abaixo dos blocos indicam que estes cairam verticalmente, a partir de icebergs , sobre o fundo do lago. A presença de icebergs, por sua vez, mostra que uma geleira esteve presente junto à margem do lago.

A idade do varvito:

O varvito de Itu faz parte de um pacote de rochas sedimentares depositadas na Bacia do Paraná, imensa área sedimentar que cobre principalmente o sudeste e sul do Brasil. Desse conjunto de rochas, que recebe o nome de Grupo Itararé, contém evidências geológicas (depósitos de conglomerados recobrindo a superfície de rochas mais antigas, riscadas e alisadas, com a forma de Rocha Moutonnée ) de uma extensa Idade Glacial antiga. Nessa época, um enorme manto ou lençol de gelo cobriu parte da América do Sul, então situada mais perto do Polo Sul.           

Fósseis de animais e plantas contidos nessas rochas, inclusive no varvito , indicam que a glaciação ocorreu  nos Períodos Carbonífero e Permiano (Era Paleozóica). Indícios dessa Idade Glacial foram também encontrados na África, Índia, Antárdida, Austrália, Península Arábica e Nova Zelândia. A duração da Glaciação foi muito longa, de cerca de 30 milhões de anos.

Durante toda a Era Paleozóica essas áreas estavam unidas formando o Supercontinente Gondvana. Na Era Mesozóica (Períodos Jurássico e Cretáceo) o Gondvana fragmentou-se, cada parte movendo-se para a sua posição geográfica atual. No Sul e Sudeste do Brasil, vários tipos de rochas e estruturas geológicas são interpretados como originados pela ação do gelo. Dois exemplos  notáveis e provavelmente ligados na sua formação são o varvito de Itu e a rocha moutonnée de Salto, no Estado de São Paulo. Esta ter-se-ia originado pela abrasão ou erosão (desgaste) glacial, que esculpiu o substrato granítico da área da cidade de Salto, durante a fase de avanço (Glaciação) das geleiras. O derretimento do gelo e o recuo da frente da geleira, em direção a Itu, durante a época posterior, mas quente (interglacial), levaria ao acúmulo da água dentro de uma grande depressão do terreno, na frente da massa de gelo, formando um grande lago.

Vestígios de animais invertebrados no lago:

Em muitos depósitos de varves de antigos lagos do Período Pleistoceno, no Hemisfério Norte, encontram-se vestígios da presença de animais invertebrados que habitavvam os lagos e perambulavam sobre os sedimentos do seu fundo. Esses vestígios aparecem sob a forma de traços finos, alongados, ondulados, que muitas vezes se cruzam sobre a superfície das camadas de sedimentos. Correspondem eles a pistas , isto é, marcas deixadas pelas patas e pelo corpo de animais que se moviam sobre a lama do fundo dos lagos.

Os animais que produziram as pistas nunca foram encontrados. Por comparação com as marcas formadas por animais atuais, o cientistas acreditam que as pistas foram deixadas por pequenos crustáceos aquáticos. Seus corpos delicados se desfizeram completamente, sem deixar restos. Pistas muito semelhantes às descritas são comuns na superfície das camadas do varvito de Itu, principalmente na superfície da argila escura. Acredita-se que representem também marcas deixadas por crustáceos, porém há cerca de 270 milhões de anos atrás. O grande número de pistas mostra que a vida era muito abundante no fundo do lago, principalmente na primavera e verão. É preciso lembrar, entretanto, que o mesmo animal pode deixar muitas marcas durante a sua vida.

 

(*) Pesquisador do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (Brasil).
(**) Projeto museológico Parque do Varvito - Ficha Técnica: Local de implantação: Itu (SP), Brasil; Ano de inauguração: 1995; Concepção e coordenação: José Geraldo Garcia; Pesquisa histórica e museografia: Jonas Soares de Souza; Desenhos, textos e assessoria científica: Antônio Rocha Campos; Educação Patrimonial: Ana Maria Sampaio.
(***)Baseado em: GARCIA, José Geraldo; CAMPOS, Antônio Rocha; SOUZA, Jonas Soares de. Parque do Varvito. Itu (SP-Brasil): Secretaria Municipal da Cultura, Turism, Lazer e Eventos, 1995.

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