Diversidade cultural e  desenvolvimento sustentável

-  a Literatura e o Turismo no âmbito da  Comunidade de Países de Língua Portuguesa -

Maria de Lourdes Netto Simões *

Na  Comunidade de Países de expressão em  Língua Portuguesa – CPLP -  é comum  a  referência ao verso de Fernando Pessoa:  Minha pátria é a Língua Portuguesa. A esse verso emblemático, quero acrescentar os do poeta e compositor brasileiro, Caetano Veloso:  Flor do Lácio Sambódromo/ Lusa América Latina em pó/ o que quer o que pode essa língua. A minha intenção é - potencializando a idéia de laço lingüístico  e  ressaltando a diferença cultural contida nos versos citados -  tomar como base a Literatura a fim de  suscitar alternativas para um turismo que vise ao desenvolvimento no âmbito da CPLP. Refletindo sobre bens simbólicos, valor  e mercado,  a estratégia é considerar a diferença cultural de cada um desses países como elemento de interesse provocador de ações para um turismo sustentável, onde a Língua Portuguesa, bem comum,  é necessariamente facilitadora de intercâmbios e trânsitos.

Sabemos que as questões de nacionalismo e de identidade nacional, hoje reconceitualizados e amplamente discutidos,  estão presentes nos vários discursos culturais. O descentramento do sujeito (HALL, 2000), que vem se acentuando na sociedade contemporânea, de modo geral tem  provocado toda uma redimensão das identidades, em revisionamento mesmo da própria identidade nacional. Isto se justifica se pensamos na possiblidade da  articulação dos referentes locais, nacionais e também das culturas pós-nacionais que – atravessando muitos territórios – reconfiguram as marchas estabelecidas a partir de experiências regionais (CANCLINI, 2000). Tais movimentos e dinâmicas, naturalmente interferindo no imaginário,  manifestam-se  através de várias formas de expressão, dentre elas,  através da literatura.

 A diferença, a ser aqui tratada, é valorizada inclusive como forma de resistência à globalização uniformizante. Além do questionamento de como  as identidades culturais nacionais estão sendo afetadas ou deslocadas pela globalização, nos países da CPLP, é possível afirmar que o processo de descolonização acentua  essas condições.  Ressaltadas a  hibridização cultural e a postura de resistência à globalização,  a diferença se faz, ainda, em relação à cultura do ex-colonizador, por força da descentralização das identidades.  Tal reflexão sustenta-se no entendimento de nação,  não mais como uma entidade política mas enquanto “entidade simbólica”, como um sistema de representação cultural.    As culturas nacionais constroem identidades ao produzirem símbolos e sentidos com os quais nos identificamos e que estão contidos nas  memórias contadas e nas imagens criadas sobre uma nação (CANCLINI, 2000). Nesse raciocínio, as diversas interpelações do momento histórico fortalecem as identidade dos povos de cultura expressada em Língua  Portuguesa.

Ao posicionar-me por uma política da diferença, contraponho-me  – como é óbvio -  à  idéia de lusofonia, no  sentido hegemônico que o termo encerra; faço-o, em abandono da postura de dependência e submissão. A diferença, visível nos patrimônios natural e cultural de cada território, é o que vai  singularizar as diversas  nações  da CPLP: sua paisagem, suas narrativas, suas vivências, sua herança.  Então, enquanto  a identidade cultural é  composta de várias camadas e resultante da intersecção de múltiplas influências que se moldam por um senso de pertinência; a cultura, como estratégia de desenvolvimento, há que ser considerada enquanto transnacional e tradutória. Como observa Homi Bhabha sobre o assunto (1998, p. 241) a cultura “é transnacional porque os discursos pós-coloniais contemporâneos estão enraizados em histórias específicas de deslocamento cultural [...], é tradutória porque essas histórias espaciais de deslocamento  - agora acompanhadas pelas ambições territoriais das tecnologias globais de mídia -  tornam a questão de como a cultura significa, ou o que é significado por cultura, um assunto bastante complexo”. A razão da complexidade talvez resida nessa multiculturalidade  inaugurar uma nova forma de articulação dos tecidos sociais; isto é, uma identidade já não pode ser definida exclusivamente dentro de suas fronteiras.  O que isto quer dizer dentro da comunidade da CPLP? Significa que poderemos    gerar  sentidos diversos,  porém comuns em pertinência. A cultura enquanto conjunto de sistemas simbólicos  (valores,  hábitos de ralação e interação,  crenças) pode ser a fonte de reelaboração de identidades baseadas na diversidade multicultural que terão como elemento de intersecção a Língua Portuguesa. Quero com isto pensar que,  no espaço  entre  as identidades nacionais e a  multiculturalidade global,  há a possíbilidade  de trabalhar  na zona de  cruzamentos e mesclas que existe na CPLP.  

A fim de tratar do trânsito cultural através do turismo, essas considerações alicerçam-se na compreensão de que,  nos dias atuais, os acontecimentos são acelerados e as distâncias encurtadas, por imagens televisivas, navegação eletrônica,  trânsito  de pessoas, rompendo limites e fronteiras de tempo e espaço.  Tais transformações interferem nas formas de interpretação da sociedade, incapazes de acompanhar as mudanças, tantas em extensão, profundidade e, sobretudo, velocidade.  Assim, é possível afirmar que é notória a idéia hoje veiculada da necessidade de ações ágeis e criativas para que ocorra a inserção de uma cultura no mundo transnacional.  Mas se tudo isso acontece por força da   globalização, também, as culturas locais são revalorizadas, no mesmo movimento. As diferenças culturais (étnicas, regionais, de nação, etc),  antes não consideradas, agora se impõem. Se o mundo é, por um lado, global , por outro, é  local.

Não podemos esquecer que, neste contexto histórico, a  culturas viajam rapidamente através da mídia, principalmente da televisão (aqui o incontestável exemplo das novelas brasileiras) e, nesse caso, parece  não ser necessário o contacto migratório para que ocorra o contacto com outra cultura. No entanto, quero crer que, exatamente essa possibilidade de poder conhecer uma cultura local através da mídia e, também  - no caso que aqui quero ressaltar - através da literatura, aguça a curiosidade das pessoas e funciona como estimulador para o turismo. 

Outra questão a ser posta, é que  (principalmente devido às migrações) assim como não podemos  associar totalmente uma identidade a um espaço, a um país, também não podemos  designar um patrimônio como exclusivo de uma cultura.  As identidades são dinâmicas e as culturas também. Viajam, redefinem fronteiras móveis. Muitos dos seus componentes se originam de um território e migram, acentuando suas características, hibridando-se com a cultura receptora (PATIÑO, 1998). É como ocorre nos países da CPLP, onde, como exemplo, é incontestável a forte presença da cultura africana na Bahia; ou em Portugal. Porém a desterritorialização, longe de produzir o desaparecimento dos elementos culturais, rearfirmam-nos.  E, para o caso que aqui pretendo discutir, é ainda (e também),  fator de interesse  para o turismo cultural.

Nesse contexto, a evidência da problemática cultural na sociedade contemporânea exige a atenção a outros fatores, inclusive ao fato de essa sociedade global ser marcada pelo incremento da atividade turística e seu aspecto econômico, enquanto oportunidade de desenvolvimento. Por isso, torna-se necessário analisar a cultura enquanto valor e transformada em mercadoria, para o que é fundamental considerar tanto os territórios, como os mercados; tanto as políticas como os agentes envolvidos na produção  e no consumo (APPIAH, 1997). 

Diretamente condicionada  às políticas que hoje se voltam para o turismo, a cultura tornada mercadoria, não deverá se subordinar aos apelos meramente econômicos, sob pena de corromper-se. O turismo cultural  deve apresentar-se como forma eficiente de atender ao incremento do turismo, garantindo a sustentabilidade da cultural local.     Para  que isso ocorra, é imprescindível o desenvolvimento de políticas que considerem  o turismo enquanto  trânsito cultural; e, o turista,  o  elemento humano  que se desloca e que tem um determinado comportamento em relação às culturas locais.  Nesse caso, para o desenvolvimento sustentado interessa o turista  que tem em consideração as distintas culturas, aquele turista que reúne condições de ser elo na cadeia de transmissão sobre as qualidades da sociedade/lugar visitado; aquele que  interpreta e respeita  a cultura local, o cosmopolita  (HANNERZ, 1999, p. 254).

Se considero a literatura como agente suscitador do turismo é que, nesses tempos de interrelações e desfronteiras, ela é enriquecida de outra ótica, transcendendo de si mesma. Tomada de uma perspectiva culturalista, é agente  valorizador da cultura local. Segundo o que aqui quero propor, é suscitadora do trânsito turístico do leitor ficcional. No contexto globalizado,  a literatura situada no lugar híbrido do valor cultural (transnacional como tradutório) é, assim, valorizadora da diferença e possível suscitadora de trânsitos. O discurso literário como um domínio recorrente de temas,  valores,  tensões e  sentidos ideológicos (diretamente atinentes às questões do nacionalismo e de problematizações identitárias) a meu ver, torna-se agenciador do turismo cultural. Por isso, num momento de recrudescimento dos nacionalismos  (não raro em contraponto a movimentos de integração transnacional)  e de  racismo e xenofobia, justificam-se as reflexões sobre a literatura que  habita a ambiência  dos sabidos problemas de articulação e convivência entre os falantes de Língua Portuguesa, acentuados pela  referida situação pós-colonial.

Muitos textos literários são tomados como verdadeiros guias de viagem. Ao fruir a literatura, o leitor  viaja também no mundo do imaginário.  Depois, busca aquele cenário ficcional no mundo real e viaja para as terras que motivaram a ficção. Ao oportunizar essas viagens, a literatura se redimensiona aos olhos do leitor quanto ao gênero e se oferece como guia de turismo.  Tal fato é singular e, hoje, já de certa forma explorado, quando os produtos turísticos oferecem os roteiros literários. Muitas vezes,  o turismo cria roteiros a partir da vida de um grande escritor. Digo: se  se vai a Praga, é impossível  deixar-se de fazer o roteiro de Kafka. Se se vai à Bahia, tem-se que se fazer o roteiro de Jorge Amado, em Ilhéus ou em Salvador. Se, a Portugal, os caminhos de Eça. Pergunto se podemos fazer os caminhos de  Luandino, de Pepetela, em Angola? De Germano Almeida, em Cabo Verde? De Craveirinha, de Mia Couto, em Moçambique? De Germano Almeida, em Cabo Verde? De Luis Cupertino, em São Tomé e Príncipe? De Abdulai Silá, em Guiné-Bissau? E tantos e tantos outros,  que o leitor deste texto certamente pode  lembrar...

Romances há que se constituem verdadeiros guias, inclusive suscitadores de aspectos  temáticos. Por exemplo, a literatura muitas vezes funciona como guia  da cozinha típica : há que se comer os bolinhos da Gabriela, quando se visita a Ilhéus, de Jorge Amado; ou as queijadinhas, quando se vai à Sintra, de Eça de Queirós. Outros elementos ficcionais,  percebidos na literatura suscitam a viagem.   Aspectos característicos do viver: os costumes das cultura do cacau, em Adonias Filho ou Ciro de Mattos; o gaúcho, de Érico Veríssimo;  a cultura da uva, lendo Vindima de Miguel Torga;  ou as circunstâncias da guerra colonial em Angola, através de Luandino Vieira ou Pepetela; as pulsões da terra, em Craveirinha ou Ba Ka Khosa, de Moçambique. Ou aspectos da topografia local, a paisagem: o Rio Cachoeira, de Telmo Padilha; ou o Tejo, de Fernando Pessoa. Ou religiosos,  curiosidade por determinados ritos conhecidos através da literatura: como foi o caso de André, de Cavaleiro Andante, do português Almeida Faria; ou, ainda, as crenças e superstições moçambicanas; os hábitos, o contato com o falar das gentes, através de Mia Couto.   Aspectos da paisagem são-tomense na fantasia infantil, de Luís Cupertino.  O contato com a  oralidade desses povos... E outros e outros...  

A literatura oportuniza o  interagir  com costumes, crenças, herança. O imaginário é povoado por bens materiais e imateriais; do patrimônio natural e cultural. Suscita ir a  Cabo Verde para ter contato com  a música, que Cesária Évora representa; à Moçambique, para ver seus costumes, seu artesanato; à Angola, para ver suas paisagens, saborear a sua comida; a  Guiné-Bissau para  apreciar a simplicidade da sua gente, ter contato com o falar crioulo; à São Tomé e Príncipe para ver as tartarugas, contadas por Cupertino;  à Lisboa, o seu patrimônio arquitetônico; ao Brasil, a pujança da sua beleza natural, da sua multiculturalidade ...  Os passeios pelas cidades, são verdadeiros trajetos turísticos, de  percursos e conhecimento das cidades. Lembro-me mesmo que, eu própria, fiz isso lendo A Décima Noite, de Josué Montelo. Percorri  a Rua do Sol, a travessa dos Viados, sentei-me na Praça dos Amores...  por isso a cidade de São Luís do Maranhão teve para mim um encanto especial. O prazer de ler o livro redobra-se, quando  vemos  o seu cenário ao vivo!.  Interagimos  com os seus personagens, relemos a cidade por outras perspectivas.

Impossível elencar tudo, tantos são os exemplos... Considerando a favorabilidade que a unidade da língua oportuniza para o  trânsito entre as nações da CPLP,  penso ser evidente considerar a literatura como  marketing para o turismo local. A literatura revelando-se como guia de turismo, que se torna  mercadoria. Daí as mediações e possível intensificação de ações que consideram o elo lingüístico como fator favorável para o desenvolvimento através do turismo.

Para melhor exemplificar essas reflexões, no contexto da CPLP, falo do meu lugar metaforicamente – e pode ser o lugar de cada um, consideradas as respectivas diferenças. Destaco a Região sul-baiana do Brasil e o seu potencial turístico, marcado por uma cultura singular, de excepcionais peculiaridades no panorama sócio-cultural  do país. O forte e significativo componente cultural que marca a compreensão da cultura dessa Região é, assim, imprescindível para a percepção histórico-cultural do seu presente, não só  no que diz respeito à sua singularidade nacional de berço do Brasil (considerada a articulação das culturas indígena, branca e negra), como à importância da nação brasileira  enquanto  expressão em Língua Portuguesa.  Portanto, a excepcionalidade cultural dessa Região sul baiana faz com que se constitua exemplo relevante de identidade local   e a potencializa  como expressão cultural de atração turística  nacional e internacional.  Tais observações `se acrescentam, quando levo em conta a sua singularidade contextual de região encravada na Mata Atlântica remanescente,  num  litoral  de excepcional  beleza. Uma região na qual o meio-ambiente, a cultura, a história   constituem-se em atração incontestável para o turismo.

Nesse especial panorama, cabe  ressaltar a sua rica e inquestionável literatura. Para citar um exemplo, refiro Jorge Amado, que ultrapassa fronteiras nacionais e ocupa o mundo com a sua obra. Os livros Cacau, Terras do Sem-Fim,  Gabriela Cravo e Canela, São Jorge dos Ilhéus, Tocaia Grande, por vieses diferentes, fazem povoar o imaginário de leitores de imagens das terras do Cacau da Bahia, sua cultura, sua gente.  Contam ficcionalmente a história da  vigorosa nação grapiúna, que habita as terras de São Jorge dos Ilhéus. Valendo-se da sua memória e das vivências do menino grapiúna que foi, Jorge Amado pintou o seu universo, deu perfil e ambientou os  seus personagens,  fazendo  o contraponto com a História da Região.

Se a obra amadiana tem vários momentos e fases, o seu leitor caminha com elas. Primeiro, sob um foco neo-realista (anos 30), que concretiza sentidos centrados na problemática social, na relação de classe;  depois, atentos ao relato fácil e agradável do contador, a movimentação da cidade de Ilhéus, a sua sociedade, os seus costumes;  a seguir,  buscando, na obra, o entendimento da cultura,  das questões étnicas, da história e formação  da nação grapiúna.

Puderam os leitores acompanhar as injustiças sociais, a prepotência dos coronéis, a servidão dos trabalhadores rurais, em Cacau, em 1932; a conquista feudal (Terras do Sem-Fim, 1942), a conquista imperialista dos exportadores (São Jorge dos Ilhéus, 1944)a demonstração da força política (Grabiela, Cravo e Canela, 1958).   Quarenta anos depois, esses mesmos leitores (e outros mais) têm a oportunidade de conhecer outra ótica do acontecido quando, em Tocaia Grande (1983), recebem a versão não-oficial da saga do cacau, através  da visão daqueles que foram esquecidos, injustiçados – a face obscura (segundo o próprio Jorge Amado),  através do olhar de sergipanos, prostitutas, comerciantes, jagunços... (SIMÕES, 1993)

Assim é que aquele mesmo leitor que leu os livros produzidos nos anos 30, que se deparou com a época da conquista das terras, da luta de classes (coronel X trabalhador rural), a ação dos jagunços (ajudando os coronéis a enriquecerem pela força da sua ambição),  também  divertiu-se com as noitadas do Bataclan,  deliciou-se  com os bolinhos da  Gabriela,  acompanhou as negociações políticas da mudança do porto de Ilhéus, a exportação do cacau, a sua comercialização. Depois, acompanhou a formação dessa civilização grapiúna já por outra ótica, que foca a identidade, reconhece sergipanos, negros  e turcos  como elementos formadores dessa cultura  (SIMÕES, 2002).

Devido ao alcance da recepção da sua obra, Jorge Amado ganha leitores de múltiplas nacionalidades que, estando em locais os mais diversos,  resolvem, um dia visitar  a cidade de Ilhéus, apresentada nas páginas  dos vários livros da saga cacaueira.  Esse é um exemplo brasileiro que, certamente, suscitará outros nos vários países da Comunidade: Mia Couto,    em Moçambique; Luandino Vieira, Manuel Rui, em Angola; Germano  Almeida, João Lopes Filho, em Cabo Verde;  Miguel Torga, Almeida Faria, em Portugal,   dentre tantos ...

As possíveis estratégias provocadoras de sustentabilidade através do Turismo, numa ação da CPLP, implicam no desenvolvimento de políticas valorizadoras da cultura. Ações podem ser desencadeadas a partir de articulações realizadas de fora para dentro (entre os países) e de ações locais.  No primeiro caso, um caminho é a realização de trabalhos culturais e de divulgação.  Deverão ser celebrados protocolos, convênios, parcerias e intercâmbios entre instituições culturais de países de expressão em Língua Portuguesa; ser valorizada uma real política editorial, que se volte não somente para a edição da literatura, mas principalmente para a distribuição das obras nos países da comunidade. A intensificação desses procedimentos  poderá contribuir para gerar um turismo cultural sustentável, na medida em que projetos de intercâmbio, por exemplo,  promovam a intensidade do fluxo de turistas, turistas esses interessados na história, na literatura, na cultura local: interessados na diferença

Por outro lado, ações localizadas desencadearão programas para a recepção desses turistas, acionando segmentos sociais, através  da promoção de formas de sustentabilidade, relacionadas a comércio de artesanato, a visitação de museus e sítios históricos,  a formas de  divulgação das representações culturais locais, seja através do teatro, da literatura, da arte visual, etc. Afora estratégias mais simples, empreendimentos mais ousados – por parte do poder público e investidores privados - poderão ser  garantidores do fluxo do turismo voltado para a cultura.  A expressão artística local poderá justificar investimentos em  editoras, livrarias, teatro e espetáculos.  A  riqueza natural deverá suscitar propostas  de ecoturismo cultural, através de fazendas modelos,  de programas de intercâmbio, de parceria entre a comunidade local, empresários e poder  público, de formas de valorização do litoral, sua fauna e sua flora.  

Ações que envolvam comunicação/literatura, mercado, política e turismo, observando os processos de integração e mediações da CPLP, certamente oportunizarão  importantes campos de trabalho. Tais ações (dos setores público  e privado) funcionarão como agenciadoras de uma expressiva circulação, onde o trânsito será o motor de rica articulação  de culturas na área da Comunidade, contribuindo para o seu desenvolvimento e a sustentabilidade.

A ousadia,   a vontade política, o olhar lúcido e comprometido com o bem estar social é que fazem grandes idéias tornarem-se realidade.  Ações voltadas para  o desenvolvimento comprometido com a cultura local garantirão um turismo valorizador do patrimônio cultural e natural.  Poderão ser firmados inúmeros protocolos, mas nenhum deles conseguirá o que somente os processos  culturais são capazes. Além disso, ações que busquem a integração através da cultura impedirão que a mesma pretendida integração entre os países da comunidade de falantes da Língua Portuguesa seja somente um acordo de cúpulas. Dessa forma, o desenvolvimento não se restringirá a aspectos econômicos, mas também atentará para o respeito aos cidadãos e às comunidades da CPLP.

Referências:

APPIAH, Kwame.O pós-colonial e o pós-moderno. In: Na casa de meu pai: a África na

filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contaponto, 1997.

BHABHA, Homi.  O local da Cultura. Trad: Myriam Ávila, Eliana Reis, Gláucia

Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

CANCLINI, Nestor. Culturas Híbridas. Trad. Ana Regina Lessa e Heloisa Cintrão. São Paulo: EDUSP, 2000.

HALL, Stuart.  A  Identidade Cultural  na Pós-Modernidade. Trad.: Tomaz da Silva e

Guacira Louro. 5.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

HANNERZ, Ulf. Cosmopolitas e locais na cultura global. In: In: Feathrstone (org).

Cultura Global. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p.251-266.

PATIÑO, Raxana. Identidad, Territórios, Diversidad. In: ANTELO et all.Declínio da Arte, ascensão da Cultura. Florianópolis: Letras Contemporâneas e ABRALIC. 1998.

SIMÕES, Maria de Lourdes Netto. De Leitor a Turista, na Ilhéus de Jorge Amado. In: Revista da ABRALIC. Belo Horizonte: UFMG/ ABRALIC, 2002.

________. A Civilização das Terras de Jorge Amado. In Colóquio Letras, 127/128, Lisboa, p. 260-4, jan.-jun, 1993.

 


·         Professora Titular. Universidade Estadual de Santa Cruz/ Mestrado em Cultura & Turismo.

Ilhéus – Bahia – Brasil                   htsimoes@superig.com.br


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